sábado, 18 de abril de 2009
A palavra racionalizada afasta as pessoas umas das outras
Dito assim, de chofre, isto até parece uma heresia contra o que mais específico tem o género humano. Porém, se levarmos em conta os trabalhos de António e Hanna Damásio temos de assumir que a razão sem emoção fica coxa. Logo, por si só, os argumentos puramente racionais não chegam para se chegar aos outros e podem até fazer estiolar qualquer tipo de relação. O que, efectivamente, aproxima as pessoas umas das outras é o cimento emocional com que conseguimos, melhor ou pior, dar consistência aos sons que produzimos (palavras incluídas), gestos ou olhares.
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3 comentários:
...excelente reflexão sobre a eterna dicotomia entre a razão/emoção! Mas bem antes de Damásio o fazer, já B. Espinosa em pleno século XVII se referia à importância deste "cimento emocional" (deixe-me dizer-lhe Viriato que adorei esta sua expressão!)...e escreveu um tratado belíssimo sobre a potência do intelecto e a força dos afectos!
...procurei um pequeno excerto de como Espinosa era no seu tempo um visionário e que , décadas depois, ainda não conseguimos alcançar o pensamento deste génio:
«A Finalidade do Estado é a Liberdade
Num Estado democrático, o que menos se tem a temer é o absurdo, pois é quase impossível que a maioria dos homens unidos em um todo, se esse todo for considerável, concorde com um absurdo.
(...) Não, repito, a finalidade do Estado não é fazer os homens passarem da condição de seres razoáveis à de animais brutos ou de autómatos, mas, pelo contrário, é instituído para que a sua alma e o seu corpo se desobriguem com segurança de todas as suas funções, para que eles próprios usem uma Razão livre, para que não lutem mais por ódio, cólera ou artifício, para que se suportem sem animosidade uns aos outros. A finalidade do Estado é portanto, na realidade, a liberdade.»
B. Espinoza, in 'Tratado Teológico-Político'
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