A palavra chegou ao centro da vida pública, e também da vida privada, por via do valor absoluto associado à liberdade de expressão. Qualquer outro tipo de comunicação não verbalizada é sempre colocada uns furos abaixo e é menos valorizada. Porque a palavra seria menos manipulatória, porque esclareceria sempre mais, porque seria a forma suprema de chegar à verdade. E, no entanto, nada disto parece colar com a realidade quotidiana.
O uso e abuso da palavra desvalorizou-a, banalizou-a, prostituiu-a, com a agravante de que somos cada vez mais incapazes de descodificar correctamente sentimentos, gestos, atitudes, ou qualquer outro tipo de expressão não verbal, por falta de treino na matéria. A palavra impôs-se como a comunicação politicamente correcta, mesmo que signifique pouco ou nada. Há que dizer sempre alguma coisa mesmo que seja uma qualquer tanga, uma qualquer banalidade, cheia de vácuo e que não resiste à análise de uma recepção mais atenta. Seguindo o pensamento de Philippe Breton, atrevo-me a proclamar que a liberdade de expressão fica coxa sem uma complementar e efectiva liberdade de recepção.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Nas quatro estações
No outono preparo a primavera
no verão o outono
e no inverno espero
a ausência dos dias que tiveram
no outono a raiz Na
primavera quando
o ar cortado pelas folhas corre
no sangue desde os fins
de janeiro
a água do sol move-me
até ao mar inteiro
Gastão Cruz (n. 1941)
Crateras
Assírio e Alvim
Colaboração de Vítor Soares
no verão o outono
e no inverno espero
a ausência dos dias que tiveram
no outono a raiz Na
primavera quando
o ar cortado pelas folhas corre
no sangue desde os fins
de janeiro
a água do sol move-me
até ao mar inteiro
Gastão Cruz (n. 1941)
Crateras
Assírio e Alvim
Colaboração de Vítor Soares
sábado, 3 de outubro de 2009
Viver da invisibilidade
Hoje em dia, o que está a dar é viver da visibilidade. Quanto mais visível, mais se ganha. Mas, acredito, dentro de algum tempo, a saturação será tal que vai ser possível passar a viver da invisibilidade.
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