sábado, 25 de abril de 2009

Miguel Ângelo canta Sérgio Godinho

Alguém pode levar a sério Miguel Ângelo (na RTP, 35 anos do 25 de Abril) a cantar "Liberdade" de Sérgio Godinho (A paz, o pão, habitação, saúde, educação /Só há liberdade a sério quando houver /Liberdade de mudar e decidir /quando pertencer ao povo o que o povo produzir /quando pertencer ao povo o que o povo produzir)?

Ou será apenas, este, mais um sinal dos tempos? Em que tudo anda misturado, o "betinho de Cascais" e o "escritor de canções"? Em que tudo vale o mesmo, desde que sirva para fazer render uns cobres?

sábado, 18 de abril de 2009

A palavra racionalizada afasta as pessoas umas das outras

Dito assim, de chofre, isto até parece uma heresia contra o que mais específico tem o género humano. Porém, se levarmos em conta os trabalhos de António e Hanna Damásio temos de assumir que a razão sem emoção fica coxa. Logo, por si só, os argumentos puramente racionais não chegam para se chegar aos outros e podem até fazer estiolar qualquer tipo de relação. O que, efectivamente, aproxima as pessoas umas das outras é o cimento emocional com que conseguimos, melhor ou pior, dar consistência aos sons que produzimos (palavras incluídas), gestos ou olhares.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

"Os da minha rua" de Ondjaki


Conhecia vagamente o autor, mas nunca tinha lido nada dele. E confesso que fiquei fã. Ondjaki é um jovem premiado autor angolano que expõe em 23 curtas "estórias", aqui editadas na colecção Bis da Leya, toda uma paleta do colorido em que se transforma a língua portuguesa quando é temperada com a gíria do sabor africano. Desde a introdução de novos vocábulos, para a decifração dos quais o glossário final dá uma ajuda preciosa (fugar, estigar, giboiar), até à original construção de frases: "pensei que ela não fosse me queixar" (pág. 38).

São "estórias" da infância e da adolescência do autor onde se descrevem figuras e personagens marcadas por uma saudável ingenuidade e por uma genuinidade que, cada vez mais, sabem a pouco. E, depois, há nesta prosa quase infantil uma nostalgia e, ao mesmo tempo, uma poesia carregadas de futuro. Para caracterizá-las nada melhor do que a frase que aparece escrita na penúltima página: "O teu livro dá conta de como crescem em segredo as crianças".

Colaboração de Vítor Soares