sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A parasitação da rádio face à televisão… e aos jornais

Começou por ser feito, muitas vezes, à socapa e só em última instância. Quando a rádio não dispunha de um registo sonoro de determinado assunto, por não ter estado presente no local do acontecimento, “picava-se” da televisão. Mesmo assim, mandava a boa norma atribuirem-se os créditos à fonte original que transmitira o registo sonoro.

Hoje em dia, impera a lei da selva. Umas vezes atribuem-se os créditos, outras vezes não, o que acaba por iludir quem ouve sobre a original proveniência dos registos sonoros. Ademais, a concentração que originou, em algumas situações, a mesma tutela empresarial sobre rádios, televisões e jornais, acaba por servir de manto diáfano para o aligeiramento das normas éticas – se a rádio é do mesmo grupo da televisão para quê estar a atribuir os respectivos créditos? Só que, mais grave, parasitam-se muitas vezes orgãos de comunicação que estão fora do respectivo grupo, o que origina uma confusão generalizada para aqueles que se preocupam em percepcionar os legítimos créditos de cada rádio e de cada televisão.

Com o à vontade de quem parece defender o vale-tudo em termos deontológicos, ouvem-se, hoje em dia na rádio, registos sonoros de outrém como se fossem próprios ou relatos de futebol feitos no estúdio sem a menção de que a narração é realizada a partir das imagens televisivas e não no local do acontecimento.

A mais recente “moda” é o convite sistemático (e o mais das vezes não remunerado, segundo presumo) a jornalistas da imprensa para preencherem os espaços de comentário radiofónico numa assunção clara de que a rádio dificilmente gera, por si só, receitas suficientes que lhe permitam uma efectiva autonomia informativa.

Perante este quadro, não é dificil de concluir que a rádio se põe a jeito para aspirar à sua própria irrelevância, como sugeria o artigo de ECT, relativamente à programação radiofónica, e contra o qual alguns se escandalizaram aqui, aqui ou aqui.

No que concerne à informação, como se demonstrou acima, a situação não é melhor. Embora esteja ciente de que toda a comunicação é, em certa medida, uma representação, no caso do jornalismo radiofónico há regras éticas e deontológicas que sobrelevam os princípios do teatro!…

Colaboração de Vítor Soares

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

António Sérgio (1950-2009)

Toda a verdade histórica reposta aqui.

Colaboração de Vítor Soares

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A palavra não é tudo

A palavra chegou ao centro da vida pública, e também da vida privada, por via do valor absoluto associado à liberdade de expressão. Qualquer outro tipo de comunicação não verbalizada é sempre colocada uns furos abaixo e é menos valorizada. Porque a palavra seria menos manipulatória, porque esclareceria sempre mais, porque seria a forma suprema de chegar à verdade. E, no entanto, nada disto parece colar com a realidade quotidiana.

O uso e abuso da palavra desvalorizou-a, banalizou-a, prostituiu-a, com a agravante de que somos cada vez mais incapazes de descodificar correctamente sentimentos, gestos, atitudes, ou qualquer outro tipo de expressão não verbal, por falta de treino na matéria. A palavra impôs-se como a comunicação politicamente correcta, mesmo que signifique pouco ou nada. Há que dizer sempre alguma coisa mesmo que seja uma qualquer tanga, uma qualquer banalidade, cheia de vácuo e que não resiste à análise de uma recepção mais atenta. Seguindo o pensamento de Philippe Breton, atrevo-me a proclamar que a liberdade de expressão fica coxa sem uma complementar e efectiva liberdade de recepção.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nas quatro estações

No outono preparo a primavera
no verão o outono
e no inverno espero
a ausência dos dias que tiveram
no outono a raiz Na
primavera quando
o ar cortado pelas folhas corre
no sangue desde os fins
de janeiro
a água do sol move-me
até ao mar inteiro

Gastão Cruz (n. 1941)
Crateras
Assírio e Alvim

Colaboração de Vítor Soares

sábado, 3 de outubro de 2009

Viver da invisibilidade

Hoje em dia, o que está a dar é viver da visibilidade. Quanto mais visível, mais se ganha. Mas, acredito, dentro de algum tempo, a saturação será tal que vai ser possível passar a viver da invisibilidade.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

É tudo uma questão de mostrar o corpinho

Há quem mostre mais, há quem mostre menos, há quem mostre de uma maneira ou de outra, mas vai tudo dar ao mesmo.

Para as modelos e equiparadas, o maior ou menor sucesso na vida mede-se pelo número de eventos sociais onde conseguem marcar presença e serem vistas.

Na imprensa, na rádio e na televisão, os comentideros do costume saltitam de orgão em orgão, à procura de visibilidade, num arremedo do que sucede com a mais velha profissão do mundo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Jogada de mestre?

Com a alegada interferência na suspensão do "Jornal de 6ª" de Manuela Moura Guedes, os espanhóis da Prisa podem ter ensaiado uma estratégia empresarial na TVI que, aparentemente, os prejudica no curto prazo, mas que até pode ser vantajosa no médio e no longo prazo.

Caso o PS vença as eleições, a Prisa pode colher os dividendos relativos ao acolhimento que deu às críticas que os socialistas vinham fazendo ao modelo do "Jornal de 6ª". No caso de ser o PSD a chegar ao poder, pode sempre invocar que o timing deliberado e o alvoroço suscitado pela suspensão, que até os socialistas incomodou, foram decisivos para a derrota do PS.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Regresso à minha cabana nos campos

1
Quando era novo serviu bem andar no mundo
Preferia sempre a montanha e os cerros
Fui por engano apanhado na época
E uns treze anos deixei longe o terreiro.
Pássaro preso lembra antigos matos
Peixe num tanque, o velho lago montesino.
Preparam cultivos em terras do Sul
Casmurro sempre regresso a estas paragens.
Este pedaço a três acres não chega
E o casinhoto, tecto de colmo, 8 ou 9 medidas.
Ulmeiro e choupo dão curva sombra às traseiras
Abrunho e pêssego se mostram 'fronte do salão maior
Perdido ao longe se esfuma um povoado
Escoam fumo os casebres,um e um.
Ladra um cão numa dessas quelhas
Os galos no cimo da 'moreira cocoricam.
A casa livre de cuidados e de poeiras
E num quarto vazio , tempo solto p'ra gastar.
A vida de homem como é presa de fantasmas?
Posso voltar a ser outra vez da Natura.

Tao Yuanming [Tao Qian] (365-427)
in Uma Antologia da Poesia Chinesa do Shijing a Lu Xun
- segundo milénio antes da era comum - século XX
(por Gil de Carvalho). Assírio e Alvim.

Colaboração de Vítor Soares

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Governo promove controlo económico dos media"

Já lá vai uma semana que Alexandre Relvas disse isto. E até hoje, nenhuma peça jornalística se dignou recolher elementos que posssam confirmar ou infirmar tal acusação, designadamente sobre a alegada "promoção pelo Governo do controlo económico dos órgãos de informação, por grupos que lhe poderão garantir uma comunicação favorável". O silêncio dos media, a este respeito, tem sido ensurdecedor! O que também pode ter uma leitura…

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Distinção entre o técnico e o político

O técnico aspira a ser reconhecido pelos seus pares; o político ambiciona a ter o voto de toda a gente.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caetano Veloso nu em documentário


E o que é que a música tem a ver com isto? Não havia "nexexidade"!!!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Credibilidade...

...alcança-se quando são sobreponíveis o ser e o parecer, o dizer e o fazer.

Ambição e virtude

O problema não está em ser ambicioso. A questão que se deve colocar sempre é saber se existe "virtude" q.b. para a correspondente ambição.
De igual modo, a pretensão, não é, por si só, sinónimo de jactância ou de frivolidade. Passa apenas a sê-lo quando não é sobreponível com o mérito.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Angola, terra prometida


Depois de se ler este livro fica-se com a sensação de que soube a pouco. A autora pesquisou, ouviu, entrevistou, recolheu imenso material, mas não demonstrou fôlego suficiente para tratar, de uma forma aliciante, tamanha quantidade de informação.

Aparentemente, aquilo que pretendia ser mais do que uma grande reportagem acaba por tornar-se numa narrativa parca em matéria de recursos estilísticos e que promete mais do que oferece.

Colaboração de Vítor Soares

sábado, 25 de abril de 2009

Miguel Ângelo canta Sérgio Godinho

Alguém pode levar a sério Miguel Ângelo (na RTP, 35 anos do 25 de Abril) a cantar "Liberdade" de Sérgio Godinho (A paz, o pão, habitação, saúde, educação /Só há liberdade a sério quando houver /Liberdade de mudar e decidir /quando pertencer ao povo o que o povo produzir /quando pertencer ao povo o que o povo produzir)?

Ou será apenas, este, mais um sinal dos tempos? Em que tudo anda misturado, o "betinho de Cascais" e o "escritor de canções"? Em que tudo vale o mesmo, desde que sirva para fazer render uns cobres?

sábado, 18 de abril de 2009

A palavra racionalizada afasta as pessoas umas das outras

Dito assim, de chofre, isto até parece uma heresia contra o que mais específico tem o género humano. Porém, se levarmos em conta os trabalhos de António e Hanna Damásio temos de assumir que a razão sem emoção fica coxa. Logo, por si só, os argumentos puramente racionais não chegam para se chegar aos outros e podem até fazer estiolar qualquer tipo de relação. O que, efectivamente, aproxima as pessoas umas das outras é o cimento emocional com que conseguimos, melhor ou pior, dar consistência aos sons que produzimos (palavras incluídas), gestos ou olhares.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

"Os da minha rua" de Ondjaki


Conhecia vagamente o autor, mas nunca tinha lido nada dele. E confesso que fiquei fã. Ondjaki é um jovem premiado autor angolano que expõe em 23 curtas "estórias", aqui editadas na colecção Bis da Leya, toda uma paleta do colorido em que se transforma a língua portuguesa quando é temperada com a gíria do sabor africano. Desde a introdução de novos vocábulos, para a decifração dos quais o glossário final dá uma ajuda preciosa (fugar, estigar, giboiar), até à original construção de frases: "pensei que ela não fosse me queixar" (pág. 38).

São "estórias" da infância e da adolescência do autor onde se descrevem figuras e personagens marcadas por uma saudável ingenuidade e por uma genuinidade que, cada vez mais, sabem a pouco. E, depois, há nesta prosa quase infantil uma nostalgia e, ao mesmo tempo, uma poesia carregadas de futuro. Para caracterizá-las nada melhor do que a frase que aparece escrita na penúltima página: "O teu livro dá conta de como crescem em segredo as crianças".

Colaboração de Vítor Soares

domingo, 29 de março de 2009

O carácter dos políticos

Um político não tem de ser, necessariamente, um técnico - para isso existem as assessorias. Mas, se há algo que não se pode deixar de exigir a um político é um carácter acima de toda a suspeita. Não percebo, por isso, a resistência de muitas cabeças ditas bem-pensantes a que se escrutinem as atitudes e os comportamentos que ajudam a definir a solidez do carácter de um político.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

AH, A MÚSICA

Quem terá deixado esquecida
esta música ouvida num canto da rua!
Ninguém de quem passa nela repara
No entanto - é ela - faltava
no dia de chuva
No meu dia de chuva!
Meu seria decerto este dia
pois por mais precário que eu seja
nenhuma chuva fora podia
cair se acaso em mim não caísse
Cai chuva e há música em meu coração
Era mera ilusão o dia de chuva

RUY BELO (1933-1978)
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