Começou por ser feito, muitas vezes, à socapa e só em última instância. Quando a rádio não dispunha de um registo sonoro de determinado assunto, por não ter estado presente no local do acontecimento, “picava-se” da televisão. Mesmo assim, mandava a boa norma atribuirem-se os créditos à fonte original que transmitira o registo sonoro.
Hoje em dia, impera a lei da selva. Umas vezes atribuem-se os créditos, outras vezes não, o que acaba por iludir quem ouve sobre a original proveniência dos registos sonoros. Ademais, a concentração que originou, em algumas situações, a mesma tutela empresarial sobre rádios, televisões e jornais, acaba por servir de manto diáfano para o aligeiramento das normas éticas – se a rádio é do mesmo grupo da televisão para quê estar a atribuir os respectivos créditos? Só que, mais grave, parasitam-se muitas vezes orgãos de comunicação que estão fora do respectivo grupo, o que origina uma confusão generalizada para aqueles que se preocupam em percepcionar os legítimos créditos de cada rádio e de cada televisão.
Com o à vontade de quem parece defender o vale-tudo em termos deontológicos, ouvem-se, hoje em dia na rádio, registos sonoros de outrém como se fossem próprios ou relatos de futebol feitos no estúdio sem a menção de que a narração é realizada a partir das imagens televisivas e não no local do acontecimento.
A mais recente “moda” é o convite sistemático (e o mais das vezes não remunerado, segundo presumo) a jornalistas da imprensa para preencherem os espaços de comentário radiofónico numa assunção clara de que a rádio dificilmente gera, por si só, receitas suficientes que lhe permitam uma efectiva autonomia informativa.
Perante este quadro, não é dificil de concluir que a rádio se põe a jeito para aspirar à sua própria irrelevância, como sugeria o artigo de ECT, relativamente à programação radiofónica, e contra o qual alguns se escandalizaram aqui, aqui ou aqui.
No que concerne à informação, como se demonstrou acima, a situação não é melhor. Embora esteja ciente de que toda a comunicação é, em certa medida, uma representação, no caso do jornalismo radiofónico há regras éticas e deontológicas que sobrelevam os princípios do teatro!…
Colaboração de Vítor Soares
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