quinta-feira, 1 de maio de 2008

Para evocar o Maio de 68


Ao invés de continuar a rebuscar as memórias vindas de França, a minha proposta vai para a leitura deste livro, acabado de sair. Partindo do caso de Coimbra, o autor analisa a dissidência política e cultural que atravessa as universidades portuguesas entre 1956 e 1974.

"Os campi universitários foram os laboratórios privilegiados para a experimentação destas novas atitudes conflituantes, que viriam a ter o seu auge simbólico no ano de 1968, em grande medida devido à contestação mediática que deflagrou em Paris durante os meses de Maio e Junho. Apesar da magnitude do impacto, os acontecimentos de «Maio de 68» não foram, porém, mais do que um abalo de superior visibilidade num território em permanente ebulição" (pág. 11).

No livro «A tradição da contestação» recusa-se o lugar comum de considerar as "crises académicas como o momento nuclear do activismo estudantil" e procura-se ir mais longe rejeitando um "tipo de história episódica" que "não facilita o entendimento do processo profundo de dissidência política, social e cultural que por estes anos atravessa o território estudantil" (pág. 203).

Miguel Cardina, que actualmente desenvolve uma tese de doutoramento sobre o desenvolvimento da esquerda radical durante o Estado Novo, lembra aqui que o radicalismo daqueles anos fez germinar uma esquerda heterodoxa que recusava a "disciplina do político" e para quem "A cólera e a festa, o colectivo e o individual, a política e a cultura, eram dois lados da mesma moeda. Em certa medida, a esquerda radical pós-moderna inscreve-se na linha de continuidade deste filão".

Colaboração de Vítor Soares

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