quinta-feira, 24 de abril de 2008
“O Último Ano em Luanda”, de Tiago Rebelo
Quem, induzido pelo título, vá a pensar ler uma recriação do ambiente vivido em Angola, nos anos de 1974-75, pode passar à frente das primeiras 150 páginas das 470 que tem este livro.
De resto, na parte inicial, o enquadramento que é feito na caracterização dos dois principais personagens revela pouca consistência, pelo que a leitura se torna deveras entediante.
Também não deixam de suscitar alguma dificuldade na adesão à obra imprecisões detectadas no uso da terminologia militar: NT era uma sigla usada para o plural “nossas tropas” e não para o singular “nossa tropa”, conforme é referido na página 106; ou um pelotão não tem mais de 25-30 homens e não cinquenta como se diz a páginas 176. Estas perplexidades são tanto mais evidentes para quem conheceu, por dentro, o “esforço de guerra”, facto a que o autor só pode aludir através das suas fontes visto que, conforme reconhece no final do livro, tinha apenas 11 anos em 1975.
No cenário de “acontecimentos verídicos” que o autor reivindica há um que ele próprio testemunhou quando, na noite de 14 de Julho de 1975, embarcou rumo a Lisboa e que, no livro, é descrito através da personagem de Regina para quem foram transmutados os episódios que rodearam a partida do avião em Luanda. É um bom tipo de recurso que, todavia, soa a excasso no conjunto da obra.
Na parte final do livro o enredo torna-se mais empolgante mas, ainda assim, ressente-se de uma escrita que, embora esforçada, é pouco luminosa nas imagens e a que falta a riqueza vocabular que permitiria transformar esta história numa genuína odisseia.
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1 comentário:
Viriato! Identifico-me imenso com os seus gostos literários! Eu li apenas um livro deste autor: "O tempo dos amores perfeitos" e não fiquei fã! Corroboro totalmente com a sua idea de que os personagens apresentam fraca consistência e igualmante (cito as suas palavras) "pouco luminosa nas imagens e a que falta a riqueza vocabular que permitiria transformar esta história numa genuína odisseia"....
Esta obra que descreve, não suscita em mim qualquer apelo...
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