sábado, 31 de maio de 2008

A pensar no "day-after"?

O Público interroga-se aqui se Manuela Ferreira Leite, ao interromper a campanha eleitoral para ir conhecer o neto, protagonizou «um genial golpe de marketing que "humanizou" a candidata e fará a diferença nas directas que vão eleger o novo presidente do PSD». No meu entender, a estratégia da candidatura de MFL visou algo menos imediato. Na perspectiva de uma vitória assegurada dentro do partido, a "humanização" da candidata visa já o confronto com Sócrates para as legislativas do próximo ano.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Conservador-Liberal-Socialista

A propósito do texto "Liberais-Conservadores" de Pedro Lomba, no DN, atrevo-me a acrescentar um terceiro ramo à genealogia política. Por que não poder defender, simultaneamente, ideias socialistas, liberais e conservadoras, consoante estejam em discussão, por exemplo, questões sociais, aspectos morais ou opções económicas? Quem quiser saber mais pode ir aqui.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A cor do poder

Já lá vai uma semana e a comunicação social, sempre tão lesta a dar conta das questiúnculas no seio do PSD, não voltou a tocar no assunto. Porque será que as´"guerras" entre sociais-democratas parecem ter sempre mais valor noticioso do que as contradições entre socialistas, mesmo que estas envolvam sacos azuis e alegados financiamentos partidários? Será tudo uma questão da cor do poder (noticioso)?

domingo, 11 de maio de 2008

Mestres e discípulos


Logo na Introdução, George Steiner dá o mote a uma das questões centrais do livro deixando entender que a ignorância pode conduzir a juízos categóricos. Pelo contrário, a aprendizagem só gera incertezas: "Após meio século de actividade docente em numerosos países e sistemas de ensino superior, apercebi-me da minha crescente incerteza quanto à legitimidade e às verdades fundamentais desta «profissão»." (pág. 11).

E, no entanto, este é um verdadeiro tratado de erudição que percorre, ao longo de mais de dois milénios, as lições dos Mestres em disciplinas que vão da filosofia, à literatura e à música. Ainda assim, no final, consciente das suas limitações, Steiner reconhece que "«Cobrir» todo este campo seria uma ambição absurda. As línguas necessárias, o conhecimento etnográfico, antropológico, histórico e científico de que precisaríamos ultrapassam em muito qualquer testemunha individual." (pág. 123).

George Steiner coloca-se na esteira de Sócrates que defendia "uma vida interrogativa, logo justa" (pág. 33) e para quem o verdadeiro ensino se faz por meio do exemplo não chegando, porém, ao ponto do desdém pela academia manifestado por Goethe: "Aquele que sabe, faz. Aquele que não sabe, ensina." (pág. 63). Além do mais, o exemplo parece ser algo do passado: "A admiração, para evitar falar de reverência, passou de moda. Somos viciados na inveja, na difamação, no rebaixamento." (pág. 147).

Steiner lembra-nos ainda que só os génios nos obrigam ao regresso repetido aos seus textos. As estruturas abertas, "no sentido em que possibilitam uma multiplicidade inesgotável de interpretações, mantêm o espírito humano em desequilíbrio." (pág. 37). Assim, mais do que afiançar o sim ou o não, ensinar deve estimular os porquês, com todos os perigos inerentes a tal atitude: "O grande ensino é aquele que desperta dúvidas, que encoraja a dissidência, que prepara o aluno para a partida («Agora deixa-me», ordena Zaratustra). No final, um verdadeiro Mestre deve estar só." (pág. 88). E o discípulo autêntico acabará por rejeitar o Mestre (pág. 99).

Na interacção entre Mestre e discípulo, cada vez mais, é o discípulo quem faz o Mestre e não o contrário, até porque ninguém ensina quem não quer aprender. Só aprende quem quer e só ensina quem pode. Quem aprende ajuda, decisivamente, quem ensina. De resto, na língua francesa, ensinar e aprender são, desde o século XII, sinónimos. O verbo apprendre que já era aprender torna-se, também, ensinar: apprendre quelque chose, mas também apprendre à quelqu'un. Ensinar e aprender são as duas faces de uma mesma moeda que tem servido, século após século, para pagar o tributo aos Deuses da Criação.

No entanto, se ensinar pode ser gratificante, mais importante é aprender. Sem aprendizagem a humanidade já teria desaparecido há muito. Não querendo ser mais céptico do que se manifesta o próprio Steiner, no final do livro, não deixo de me interrogar se não haverá o risco de que as tecnologias nos induzam a ideia de que não é preciso aprender. Que todo o ensino está garantido e disponível e é um dado adquirido para sempre.

Colaboração de Vítor Soares

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Bocas

"O primeiro-ministro tem o seu estilo e...Não faço ideia. Sei o que se faz noutros países, mas acho que as coisas em Portugal estão um pouco invertidas, nem é subvertidas"

Declarações de Manuela Moura Guedes ao jornal Público, de 09/05/2008, em resposta à pergunta sobre se José Sócrates aceitaria um convite para ir ao seu Jornal.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Eleição de Pedro Passos Coelho pode reformular o sistema partidário

É talvez a única oportunidade de se quebrar o arco do poder PS-PSD que governa Portugal há dezenas de anos.
A eleição de Pedro Passos Coelho fará estilhaçar o “velho” PSD (que deixou, definitivamente, de ser um partido reformista, com ou sem Manuela Ferreira Leite) e criará condições para haver rupturas que o sistema partidário português precisa como de pão para a boca.
Um PSD (com este ou com outro nome) à imagem de Passos Coelho será um partido liberal de centro-direita onde não se sentirão confortáveis os genuínos sociais-democratas que ainda por lá restam. Estes irão, certamente, ser acolhidos por um PS cada vez mais centrista, e que, por isso, deixará de constituir alternativa e de onde poderão descolar muitos socialistas insatisfeitos à procura de um projecto de poder que se possa constituir numa via de esquerda por oposição às opções liberais.

domingo, 4 de maio de 2008

José Saramago morou na minha rua

Foi no início dos anos 70 que me habituei a ver a figura de José Saramago no café do bairro, junto ao elevador da Bica, ou descendo a minha rua, sempre com a postura erecta que o caracteriza, a caminho da casa onde morava Isabel da Nóbrega. Os dois viviam então os primeiros tempos de uma relação que, conforme Saramago relata na sua autobiografia, duraria até 1986.

Colaboração de Vítor Soares

Irene Pimentel

Será esta a mesma Irene que eu conheci, antes do 25 de Abril, deixando deslizar seu sorriso suave pelos quatro pisos da Livraria Opinião? E o Madeira Luís? E o Hipólito? Que será feito deles? O Pedro Bandeira Freire, já sabemos, não resistiu à agonia do seu Quarteto.

O PS agradece!...

É preciso é que haja muitas disputas internas e muitas notícias para a comunicação social. Enquanto se for discutindo o PSD, não se fala do PS.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Para evocar o Maio de 68


Ao invés de continuar a rebuscar as memórias vindas de França, a minha proposta vai para a leitura deste livro, acabado de sair. Partindo do caso de Coimbra, o autor analisa a dissidência política e cultural que atravessa as universidades portuguesas entre 1956 e 1974.

"Os campi universitários foram os laboratórios privilegiados para a experimentação destas novas atitudes conflituantes, que viriam a ter o seu auge simbólico no ano de 1968, em grande medida devido à contestação mediática que deflagrou em Paris durante os meses de Maio e Junho. Apesar da magnitude do impacto, os acontecimentos de «Maio de 68» não foram, porém, mais do que um abalo de superior visibilidade num território em permanente ebulição" (pág. 11).

No livro «A tradição da contestação» recusa-se o lugar comum de considerar as "crises académicas como o momento nuclear do activismo estudantil" e procura-se ir mais longe rejeitando um "tipo de história episódica" que "não facilita o entendimento do processo profundo de dissidência política, social e cultural que por estes anos atravessa o território estudantil" (pág. 203).

Miguel Cardina, que actualmente desenvolve uma tese de doutoramento sobre o desenvolvimento da esquerda radical durante o Estado Novo, lembra aqui que o radicalismo daqueles anos fez germinar uma esquerda heterodoxa que recusava a "disciplina do político" e para quem "A cólera e a festa, o colectivo e o individual, a política e a cultura, eram dois lados da mesma moeda. Em certa medida, a esquerda radical pós-moderna inscreve-se na linha de continuidade deste filão".

Colaboração de Vítor Soares